Sítio se transforma em 'sala de aula' para produtores de leite em MT
Por Assessoria Sebrae-MT /Vanessa Brito
10/02/2014 - 13:36
A simples segunda ordenha à tarde das cinco vacas em lactação do Sítio São Benedito aumentou a produção em 20 litros/dia, que pagam os custos da atividade. Esta pequena mudança no processo produtivo envolveu a queda de um antigo tabu cultural, que diz que a segunda ordenha subtrai o leite dos bezerros.
Osvaldo Guimarães, filho de Gonçalo Guadalupe Guimarães, proprietário do sítio e participante do programa Balde Cheio, garante que as vacas ficaram bem e não faltou leite para os bezerros. E a receita da propriedade aumentou. Este já foi um resultado fruto de sua participação no programa Balde Cheio, que está desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Livramento em parceria com o Sebrae MT, desde junho passado. Esta constatação foi feita, na quinta-feira (6).
À sombra das mangueiras do Sítio São Benedito, 24 produtores de leite e o técnico agrícola da prefeitura, José Carlos da Silva, assistem atentos às explicações do consultor Fernando Bueno, especialista em pecuária leiteira. Ele veio de São Carlos (SP), trazido pelo programa Balde Cheio. Um data show pendurado nos galhos das árvores projeta números e mais conhecimento para os ‘alunos’.
Esta é a terceira visita do consultor paulista a este sítio, unidade demonstrativa do Balde Cheio em Nossa Senhora do Livramento, município da baixada cuiabana. Bueno está conferindo as tarefas combinadas na ´aula anterior´. Um caderno de anotações distribuído para os 15 participantes do Balde Cheio deve ter sido preenchido por Osvaldo Guimarães. Os dados do Sítio São Benedito são checados e contas são feitas com o auxílio de calculadora sobre despesas de custeio, custos, lucro, receita, fluxo de caixa, entre outros. Todos fazem perguntas, anotam as respostas Em quatro meses, a produção da propriedade saltou de 38 para 60 litros/dia. A ‘aula é animada.
“Quem quer ganhar dinheiro e se profissionalizar tem que fazer a segunda ordenha à tarde”,enfatiza o consultor. Vinte e seis piquetes de 20 m X 10 m para manejar as vacas também devem ter sido construídos por Osvaldo.
Na parte da tarde, depois do almoço oferecido por Gonçalo e família aos colegas do programa, Bueno vai percorrer os piquetes com todos para ver se estão de acordo com as orientações. Ele também vai apresentar o quadro de controle reprodutivo, usado em fazendas norte-americanas para orientar produtores de leite na tomada de decisões em relação ao rebanho e suas várias etapas, desde criação até produção e descarte.
“Só de separar as vacas com pouca produção, fazer anotações, medir, fornecer mais água e fazer a segunda ordenha já aumentou a receita”, afirma Osvaldo satisfeito. “O que falta para a gente é conhecimento. Comecei a fazer piquetes sem tecnologia, da minha cabeça. Agora vou fazer tudo certo. Estou anotando despesas, receitas, tudo”, diz Márcio Francisco Metelo, produtor de leite, funcionário e parceiro da Fazenda Aroeira. Ele também já observou ganho de produção com novas práticas adotadas.
“Estou animada. Tinha duas vacas em setembro e resolvi comprar mais cinco. Vou fazer 26 piquetes. A gente aprende muito no Balde Cheio. São coisas simples que mudam a produção. Falta muito conhecimento para o produtor rural”, afirma Maria Helena Borges, proprietária do Sítio Santa Luzia. Por enquanto, ela produz 18 litros/dia, mas quer aumentar bastante os resultados e ser fornecedora de laticínio da região.
“O potencial do leite em Mato Grosso é muito grande. Temos clima, solo e mercado”, resume Aureliano Pinheiro, gestor do programa Balde Cheio do Sebrae MT. Para ele, a Prefeitura de Nossa Senhora do Sacramento está dando um exemplo ao promover a iniciativa. “ É o primeiro município a aderir ao programa em MT, que vai gerar oportunidades para a cadeia produtiva do leite na região”, salienta.
Técnico local
José Carlos da Silva, técnico agrícola da prefeitura, é um participante especial do programa. Ele está sendo capacitado na metodologia do Balde Cheio, criada especialmente pela Embrapa Pecuária Sudeste São Carlos (SP) para o programa nacional do Sebrae, que objetiva levar ferramentas de gestão à cadeia produtiva do leite em todo o país.
Depois de capacitado, ele será o multiplicador deste programa no município de Nossa Senhora do Livramento. Os pequenos produtores de leite locais que quiseram participar da iniciativa são exemplos práticos para o técnico aprender e aplicar a metodologia. Ele atende os 15 produtores de leite assistidos pelo Balde Cheio. A maioria deles produz leite, mas não administrava a atividade como negócio.
“Visito as propriedades. Ajudo nas anotações, tiro dúvidas e espero poder ajudá-los ainda mais”, afirma José Carlos. O prefeito Carlos Roberto da Costa chegou ao final da manhã e acompanhou um pouco a ‘aula’ no São Benendito. “Este programa é importante para o nosso município, porque é eminentemente rural. Nós acreditamos na atividade leiteira aqui. Vejo no leite, no peixe e na hortifruticultura, o potencial da economia local. Falta conhecimento para desenvolver esses segmentos, por este motivo fizemos parceria com o Sebrae MT”, explica o prefeito. “É um luxo ter um consultor de São Paulo aqui a um custo baixo para ensinar nossos produtores de leite como produzir mais e melhor”, ressaltou.
O programa
O programa Balde Cheio é realizado pelo Sebrae há 16 anos e está presente em cerca de 800 municípios em 24 unidades da Federação. Quatro mil propriedades rurais produtoras de leite de todos os portes já foram atendidas pelo programa, que aplica metodologia desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sudeste de São Carlos (SP) especificamente para o Sistema Sebrae.
Em Mato Grosso o programa é desenvolvido pelo Sebrae MT há quatro anos e está implantado, até o momento, em 30 municípios nas regiões do Portal da Amazônia, Norte do Araguaia, Médio Araguaia, região centro MT, sul de MT e noroeste do estado, onde atende 36 propriedades rurais demonstrativas(salas de aula); 200 propriedades rurais assistidas; totalizando 300 propriedades rurais. . Trinta e nove técnicos são capacitados ou estão em capacitação nos municípios para atender os produtores.
O objetivo do Balde Cheio é oferecer ferramentas de gestão aos produtores de leite e melhorar a competitividade das propriedades. A maioria deles não administra a atividade como negócio, mas como subsistência. A meta do programa é gerar ganho de produtividade de 100 litros/dia, com 10 cabeças/ha.
O aumento do consumo registrado nos últimos anos e o surgimento de laticínios em todas as regiões do país estão impulsionando esta cadeia produtiva. O Sebrae aposta nas oportunidades de mercado para os pequenos produtores de leite e disponibiliza a metodologia do programa por meio de parcerias com as prefeituras municipais para levar conhecimento de gestão a este segmento por meio de técnicos capacitados e que atuam como multiplicadores nos locais.
O programa Balde Cheio tem a duração de quatro anos. Os produtores participantes têm os seguintes deveres: deixar a porteira aberta para interessados; fazer exames anuais de brucelose e tuberculose no rebanho leiteiro; e realizar as tarefas combinadas com o técnico, de acordo com prazo e recursos disponíveis.
Os direitos das propriedades assistidas pelo programa são: serem atendidas uma vez por mês pelo técnico local; e receber três visitas anuais do consultor do programa.